A Campanha de Sobrevivência à Sepse ou Surviving Sepsis Campaign (SSC)
foi criada em 2002 com o objetivo inicial de reduzir a mortalidade da sepse em
25%. A publicação de suas diretrizes tem servido como guia para o manejo dos
pacientes com sepse/choque séptico em todo o mundo e um novo “guideline” é geralmente
publicado a cada quatro anos, sendo a última publicação em 2016 (acesse também As novas recomendações do SSC 2016 Parte 1 e Parte 2). Frente ao
achado de novas evidências e da evolução rápida do conhecimento na área, novas
atualizações acontecem visando o melhor manejo dos pacientes.
Diante disto, recentemente
foi proposta uma atualização de seus “bundles”.
A mudança mais importante é que os “pacotes de 03 e 06 horas” (para saber mais
sobre o pacote de 03 e 06 horas clique aqui) foram combinados em um único “pacote
de 01 hora” com o objetivo principal de iniciar a ressuscitação de forma
imediata (Figura 1).
Figura 1. Pacote de 01 hora.
O racional está
no fato de que sepse é uma emergência médica e, assim como no infarto agudo do
miocárdio e acidente vascular isquêmico, a identificação precoce, o manejo
imediato e de forma correta nas primeiras horas de sua identificação levariam a
melhores desfechos clínicos.
O “tempo zero” é
definido como:
- Hora da suspeita de
sepse na triagem na sala de emergência ou
- Hora do primeiro registro gráfico de prontuário de disfunção orgânica no caso de
pacientes encaminhados de outros locais de atendimento.
Pacote de 01 hora:
1.
Coletar o lactato. Nova coleta se o inicial for ≥ 2
mmol/l.
O lactato é um dos marcadores de hipoperfusão tecidual e caso o exame
inicial estiver elevado (> 2 mmol /L), um novo deverá ser coletado no
intervalo de duas a quatro horas, tendo como meta a sua normalização.
2.
Coletar culturas antes do início do antibiótico.
A sensibilidade das culturas pode ser reduzida após poucos minutos da
primeira dose do antimicrobiano, desta forma, idealmente, elas devem ser
coletadas antes do início destes. Apesar desta evidência, sabe-se que administração
de antibioticoterapia adequada não deve ser retardada para a obtenção das
hemoculturas! Deve-se coletar pelo menos dois pares de hemoculturas (aeróbico e
anaeróbico).
3.
Administrar antibióticos de largo espectro.
Terapia empírica de amplo espectro com um ou mais antimicrobianos
intravenosos objetivando cobrir todos os patógenos prováveis deve ser iniciada
imediatamente. Os antibióticos devem ser descalonados conforme o resultado de
culturas e suspensos caso a possibilidade de infecção seja descartada.
4.
Iniciar rapidamente a administração de 30 ml/kg de
cristaloides se hipoperfusão ou lactato ≥4 mmol/l.
A ressuscitação com pelo menos 30ml/kg de cristaloides intravenosos deve
ser iniciada de forma precoce e é crucial para o manejo da hipoperfusão
tecidual induzida pela sepse e do choque séptico. A expansão volêmica deve
começar imediatamente após o reconhecimento da sepse e/ou hipotensão e hiperlactatemia,
e concluída em até três horas do reconhecimento. A falta de evidências que
comprovem a superioridade dos coloides em comparação aos cristaloides e o custo
mais elevado da albumina fazem com que os cristaloides sejam os fluidos de
escolha no manejo inicial. Expansões volêmicas adicionais deverão ser
realizadas de forma criteriosa e apenas em pacientes fluido responsivos.
5.
Iniciar vasopressores caso o paciente se
mantenha hipotenso durante ou após a expansão volêmica. Meta de pressão
arterial média (PAM) ≥ 65 mmHg.
Restaurar a pressão de perfusão de órgãos vitais de forma adequada é
parte fundamental da ressuscitação e não deve ser adiada. Caso a pressão
arterial não for restaurada após a ressuscitação volêmica inicial, os
vasopressores deverão ser iniciados ainda na primeira hora com meta de PAM ≥ 65
mmHg.
Possivelmente haverá
necessidade de mais de uma hora para que a reanimação dos pacientes com
sepse/choque séptico seja concluída, mas o início da reanimação e tratamento devem
ser iniciados imediatamente e o paciente deverá ser reavaliado frequentemente nas horas subsequentes.
Por fim, vale a
pena lembrar que a SSC vem recebendo várias críticas nos últimos anos devido a
manutenção de algumas recomendações que são consideradas inadequadas por alguns
autores frente a publicação de novas evidências (clique aqui). Porém estas questões
fogem do objetivo deste post e não
serão abordas aqui.
Referências
1.
Levy MM, Evans LE, Rhodes A. The Surviving Sepsis Campaign
Bundle: 2018 update. Intensive Care
Med. 2018 Apr 19. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29675566
2.
http://www.survivingsepsis.org/Bundles/Pages/default.aspx
Boa tarde,
ResponderExcluirPrecisa fazer a correção de um erro de tradução no item 4:
4. Iniciar rapidamente a administração de 30 ml/kg de cristaloides se hipoperfusão ou lactato ≥2 mmol/l.
Por
4. Iniciar rapidamente a administração de 30 ml/kg de cristaloides se hipoperfusão ou lactato ≥4 mmol/l.
Corrigido! Agradecemos a observação.
ExcluirBem importante a observação. Já ia compartilhar. Vou esperar a correção.
ResponderExcluirPor qye só tem 3 autores? O SSC 2016 tinha várias sociedades apoiando. As sociedades internacionais retiraram o apoio?
ResponderExcluirOlá.
ExcluirO grupo do Surviving “guideline” e “bundles” são separados. Os guidelines são principalmente das duas sociedades e são multinacionais, varios grupos fazem parte/endossam, incluindo o ILAS e a AMIB. Os bundles são prioritariamente americanos, são bem mais restritos e por isso, por vezes, não tem no aceitação, dada a falta de diversidade.
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