domingo, 1 de fevereiro de 2015

Prevenção da peritonite bacteriana espontânea



A peritonite bacteriana espontânea (PBE) é a infecção do líquido ascítico, previamente estéril, na ausência de um foco evidente de infecção intra-abdominal. Cerca de 10-30% dos pacientes com ascite admitidos no hospital apresentam PBE (1).
A maioria das bactérias causadoras da PBE são provenientes do trato gastrointestinal, sendo infrequente bactérias extra intestinais. Acredita-se que a PBE se desenvolva após um episódio de bacteremia, durante a qual o líquido ascítico se torna infectado devido a constante troca de fluidos entre o espaço peritoneal e intravascular. Quatro fatores são preponderantes na patogênese da PBE: crescimento excessivo de bactérias do intestino delgado, aumento da permeabilidade intestinal,  translocação bacteriana e  imunossupressão (1).
Uma dúvida frequente em nossa rotina é quando está indicado a prevenção de PBE, dado a frequência de pacientes cirróticos na UTI. A antibioticoprofilaxia reduz o risco de infecção bacteriana e mortalidade nos pacientes com alto risco de desenvolvimento de PBE. Três grupos são considerados de risco: aqueles com sangramento gastrointestinal, os com episódio prévio de PBE e os com baixa atividade opsônica do líquido ascítico (1, 2).

Indicações de profilaxia de PBE (1, 2, 3, 4):
·         Pacientes com cirrose e sangramento gastrointestinal.
·         Pacientes que tiveram um ou mais episódios de PBE.
·         Considerar em pacientes com nível de proteínas do líquido ascítico ≤ 1,5 g/dL e mais um dos seguintes critérios: insuficiência hepática grave definida como escore de Child-Pugh ≥ 9 e bilirrubina sérica ≥ 3mg/dl; ou disfunção renal definida como creatinina sérica ≥ 1,2mg/dl, uréia > 55 mg/dL ou sódio sérico ≤ 130mEq/l.

O uso de norfloxacin como profilaxia secundária está bem estabelecida na literatura, entretanto muitos pacientes na UTI já estão em uso de antibióticos que proporcionam cobertura adequada contra os potenciais agentes causadores de PBE. Naqueles que não podem usar o trato digestivo, como nos casos de hemorragia digestiva, pode ser usado ceftriaxone intravenoso (2).

Referências:
3- UpToDate, acessado em 01/02/15 (http://www.uptodate.com/contents/spontaneous-bacterial-peritonitis-in-adults-treatment-and-prophylaxis?source=see_link).
4- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22147550 

2 comentários:

  1. Excelente post! Problema que frequentemente nos deparamos. A duvida fica para os paciente cirróticos com histórico de internação recente e uso de antibiótico recente. Estes pacientes podem estar colonizados por bacterias multiresistentes. Outra duvida que me ocorreu: jejum e nutrição parenteral são fatores de risco para PBE?
    Mais uma vez, parabens pelo post!

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  2. Comentário pertinente. Acredito que outros antibióticos possam ser considerados em pacientes hospitalizados, conforme perfil local. Vale lembrar que têm sido reportadas taxas crescentes de insucesso no tratamento de PBE nosocomial com cefalosporinas e quinolonas. Quanto ao jejum e NPT, não sei dizer se há algum estudo em que isso foi avaliado como fator de risco para PBE.

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