A hiperatividade simpática paroxística, também conhecida como
tempestade simpática, convulsões diencefálicas, tempestade autonômica, síndrome
de disfunção autonômica, instabilidade autonômica paroxística com disautonomia
ou simplesmente disautonomia, é uma complicação relativamente frequente em
neurointensivismo. Os episódios são vistos em até um terço dos pacientes com trauma
cranioencefálico grave e doença axonal difusa; e também podem ser secundários a
outros eventos, como encefalopatia hipóxico isquêmica, hemorragia subaracnóide,
hematoma intraparenquimatoso ou hidrocefalia, porém de forma menos frequente.
As crises podem ser estimuladas ou ocorrer de forma espontânea e a
sua fisiopatologia parece estar relacionada à estimulação ou inibição de áreas
simpatoexcitatórias no cérebro e tronco cerebral, secundária à perda do
controle cortical e subcortical. O “reset” dos barorreflexos
poderia explicar a coexistência de hipertensão e taquicardia, enquanto que uma
combinação de aumento da liberação de catecolamina e do tráfego neural
simpático poderia explicar o aumento da pressão de pulso durante os episódios. Por
fim, a ativação de reflexos somatossimpáticos dos mecanorreceptores ou
quimiorreceptores musculares durante episódios de hipertonia ou flutuações na
pressão intraventricular poderiam desencadear as crises paroxísticas.
Manifestações
clínicas
- Manifestações típicas: alterações na temperatura corporal, pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e tônus muscular.
- Outros: midríase, rubor e distonia. Podem
preceder episódios de hipertensão intracraniana.
- Início 5-7 dias após a injúria, mas pode
ocorrer antes.
- As crises podem ocorrer ate 3x/dia, com duração
variando entre menos de 1 hora até mais de 10 horas. Com o tempo o número de
episódios diminui, porém o tempo das crises aumenta.
- Duração total de 1-2 semanas até vários meses.
Diagnóstico
- Presença de 4 ou mais dos seguintes critérios
na ausência de outra causa que os justifiquem:
- T>38,3 ºC
- FC>120 bpm (ou >100 bpm se uso de beta-bloqueadores)
- Pressão arterial sistólica >160 mmHg ou pressão de pulso > 80 mmHg
- Frequência respiratória >30 ipm
- Diaforese.
- Posição em extensão ou distonia severa
- Sempre excluir diagnósticos diferenciais, como sepse e crise convulsiva. Desta forma pode ser
interessante a coleta de culturas e demais exames para rastreio de processo infeccioso,
além de um eletroencefalograma. Outros exames interessantes nos casos suspeitos
são tomografia computadorizada de crânio, para excluir hidrocefalia, e ressonância
magnética de coluna cervical e torácica, já que crises de disautonomia podem
ocorrer em pacientes com trauma raquimedular acima de T5.
Tratamento
- Atenção a alguns possíveis fatores desencadeantes, como dor, bexigoma, manipulação do cateter de Foley, mudança de decúbito.
- Tratamento agressivo da febre.
- Atenção à hidratação, já que estes
pacientes têm perdas insensíveis aumentadas.
Terapia farmacológica
- EVITAR antagonistas dopaminérgicos, como haldol, clorpromazina.
Estas medicações podem piorar as crises.
Morfina
Medicação
mais efetiva para abortar as crises.
Dose recomendada: 2-8mg IV nas crises.
Propranolol
Reduz a frequência e a severidade dos episódios
por reduzir o efeito das catecolaminas circulantes.
Preferir beta-bloqueadores não seletivos (ex: propranolol, labetalol), os seletivos são pouco efetivos.
Dose recomendada: 20-60 mg a cada 4-6h VO.
Preferir beta-bloqueadores não seletivos (ex: propranolol, labetalol), os seletivos são pouco efetivos.
Dose recomendada: 20-60 mg a cada 4-6h VO.
Clonidina
Alfa-dois agonista com ação central e periférica,
utilizado para o tratamento da hipertensão e taquicardia.
Dose recomendada: 0,1 a 0,3 mg 3x/dia, máximo de
1,2 mg ao dia. VO.
Atenção: a
medicação pode causar queda excessiva da pressão entre as crises, podendo gerar
baixo fluxo cerebral.
Bromocriptina
Agonista dopaminérgico D2. A utilização da
bromocriptina para esta indicação baseia-se nas semelhanças entre disautonomia e
síndrome neuroléptica maligna, que é causada pelo bloqueio da dopamina.
Dose recomendada: 1,25mg 2x/dia VO, poderá ser
titulado até 10-40mg/dia.
Atenção: Pode
reduz o limiar convulsivo e está contraindicada
nos casos de hipertensão não controlada.
Baclofeno
Baclofeno
GABAB agonista utilizado para o
tratamento dos espasmo musculares.
Dose recomendada: 5mg VO 3x/dia, até 80mg/dia.
Atenção: Evitar súbita descontinuação pelo risco
do desencadeamento de crises convulsivas, rigidez, febre e disautonomia.
Benzodiazepínico
Interessante
pelos efeitos de relaxamento muscular, sedação e ansiolíse.
Dose recomendada: Midazolam 1-2mg IV ou lorazepam 2-4mg IV ou diazepam
5-10mg IV. Preferir diazepam.
Seus efeitos são inferiores aos dos opióides, mas são preferíveis se grande componente de ansiedade presente.
Seus efeitos são inferiores aos dos opióides, mas são preferíveis se grande componente de ansiedade presente.
Gabapentina
A gabapentina liga a subunidade α2δ dos canais de cálcio pré-sinápticos voltagem dependentes e
age principalmente pela inibição da liberação de neurotransmissor no corno
dorsal da medula espinhal e em todo o sistema nervoso central.
Usar quando os outros agentes falharam no
controle das crises ou na fase de recuperação para pacientes com lesão cerebral
subaguda e manifestações disautonômicas mais leves.
Dose recomendada: Começar com 300-900mg/dia, ate
3600-4800mg/dia VO.
Dantrolene
É indicado para o tratamento de síndrome
neuroléptica maligna e hipertermia maligna. É particularmente eficaz nos casos
de postura distônica severa.
Dose recomendada: 0,25-2mg/kg IV a cada 6-12h, dose
máxima de 10mg/kg/d.
Contra indicado se insuficiência hepática aguda.
Pode causas hepatite fulminate.
Referência
Que bacana! Ver os médicos aos quais trabalhei na UTI e aprendi tanto como Dr. Daniere, Dr. Rodrigo, Dra. Sanmya, Dr. Sergio, me ensinaram tanto e continuarão me ensinando. Eu procurando algo sobre tempestade autonômica, me deparo com esse blog que me elucidou muita coisa! Obrigada! Vou usar e abusar dos conhecimentos aqui postados!
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