Hipovolemia em pacientes graves
A primeira pergunta que fazemos
diante de um paciente com choque circulatório ou sinais de má perfusão tecidual
é se ele vai se beneficiar de intervenções que aumentem o débito cardíaco. Se a
opção for aumentar o débito cardíaco, a primeira escolha é a infusão de fluidos
[1]. Entretanto, apenas metade dos
pacientes graves aumenta o débito cardíaco após a infusão de volume [2]. Atualmente, alguns métodos são
usados para tentar se evitar a infusão desnecessária de fluidos e a potencial consequência
a longo prazo, que seria o balanço hídrico muito positivo [3]. Podemos citar os métodos dinâmicos para
avaliar a fluidoresponsividade, como a elevação passiva das pernas, ou mesmo a mini-fluid challenge [4].
Na prática diária geralmente
afirmamos que o paciente que se beneficia de fluidos está hipovolêmico. Mas
qual o conceito de hipovolemia? Stricto
sensu hipovolemia deveria ser definida como uma diminuição no volume de
sangue resultante da perda de sangue ou plasma. No entanto, o impacto
hemodinâmico da perda de fluidos é complexo.
O volume de sangue é dividido em volume
“não estressado” e “estressado”. O volume “não estressado” constitui principalmente
o sangue armazenado em veias de grande capacitância e não contribui para o
retorno venoso. É definido como o volume no sistema vascular quando a pressão
transmural é zero. Por sua vez, o volume “estressado” contribui diretamente
para o retorno venoso e é definido como o volume de sangue no sistema vascular
que deve ser removido para levar a pressão transmural ao valor zero (Fig. 1).
Figura 1- Conceito de volume sanguíneo “não estressado” e “estressado”
Na hipovolemia compensada, o volume circulatório perdido é compensado por
uma redução equivalente no volume de sangue “não estressado”, mantendo-se assim
o volume “estressado” e o débito cardíaco. Se mais volume é perdido, esses mecanismos
compensatórios se tornam insuficientes, resultando na hipovolemia descompensada, com redução do retorno venoso e débito
cardíaco. Em casos de vasodilatação, como na sepse, o volume de sangue “não
estressado” aumenta e leva a redução do volume “estressado”, situação conhecida
como hipovolemia relativa [5].
Quando há redução na pré-carga e débito
cardíaco, usamos o termo hipovolemia central,
que pode ser devido a hipovolemia descompensado
e/ou hipovolemia relativa, bem como ser
decorrente da diminuição do retorno venoso devido ao aumento da pressão
intratorácica em pacientes submetidos a ventilação com pressão positiva. Em
pacientes graves, a maioria dos efeitos circulatórios são consequências da hipovolemia central, que leva a redução
global na perfusão tecidual devido à queda no débito cardíaco. Esse é o conceito
que tem importância prática. Em estudos clínicos com pacientes graves, a hipovolemia é sinônimo de hipovolemia central, sendo
pragmaticamente caracterizada quando há aumento no débito cardíaco em resposta a
expansão volêmica nos pacientes com choque e/ou sinais de má perfusão [5].
Referências
Nenhum comentário:
Postar um comentário