sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Alarmes: um velho problema ainda sem solução.

Um paciente masculino de 65 anos, em pós operatório de drenagem de hematoma subdural agudo secundário a queda da própria altura, veio a óbito na unidade de terapia intensiva depois de apresentar um quadro de agitação psicomotora e ser medicado com Propofol endovenoso por um residente. Antes deste quadro de agitação o paciente encontrava-se estável, sem uso de droga vasoativas, respirando espontaneamente e em programação de alta.

Por ser tratar de uma provável morte evitável, o caso foi analisado pela comissão de óbito do hospital, no intuito de identificar algum fator que se modificado resultasse em um desfecho diferente do ocorrido.
Durante a avaliação do caso, verificou-se que poucos minutos antes da administração do medicamento, a enfermeira responsável pelo leito havia desligado o alarme de freqüência cardíaca e respiratória do monitor, gerando uma falha de monitorização que resultou no óbito. Quando questionada, a resposta foi: “O alarme estava tocando a 45 minutos sem parar e eu estava ficando louca, desliguei porque o paciente retirava o eletrodo o tempo todo”.

O caso descrito acima é fictício, mas o problema relacionado a alarmes nas UTIs não, ao ponto que em abril de 2013, a Joint Comission publicar em seu site um paper alertando sobre eventos graves relacionados ao tema. Nesta mesma publicação é colocado a necessidade de se ajustar, individualmente ou para um grupo de pacientes semelhantes, os valores fisiológicos para cada alarme, diminuindo o número de falsos positivos.(1) 

Os alarmes de padrões fisiológicos pré-definidos foram criados para ajudar a monitorização de pacientes críticos, permitindo através de aviso visual ou sonoro, a percepção de condições clínicas que necessitem de intervenção imediata. Os motivos para a falha no uso dos alarmes na prática clínica são principalmente: “fadiga de alarme”, erros de comunicação, falta de treinamento/ conhecimento e falha dos dispositivos. Outro ponto a ser considerado é o número de alarmes utilizados nos diversos dispositivos (bombas de infusão, ventiladores, monitores) o que gera uma grande dificuldade por parte da equipe no reconhecimento e priorização levando ao desligamento, diminuição do volume e outras atitudes que causam eventos graves. Além disso, a falta de um responsável na equipe por definir os padrões a serem aplicados em cada alarme e quem irá responder caso um seja acionado, também contribui diretamente para erros. (2)

Estima-se que os alarmes são falsos entre 72% a 99% das vezes, gerando dessensibilização, atraso na resposta clínica e consequente perda da monitorização adequada do paciente. Em uma unidade coronariana o número de alarmes médio foi de 10,6/ hora levando a um nível de ruído intenso, distrações e quebra no fluxo de serviços da unidade (3)
O número de eventos adversos relacionados a alarmes é incerto, devido a dificuldade de identificação, porém entre os anos de 2005 a 2008, o FDA relatou 566 mortes relacionadas a problemas com alarmes, o que motivou uma reunião de várias organizações da área médica, de engenharia, tecnologia e aviação na tentativa de buscar soluções para este problema. A ECRI, uma entidade sem fins lucrativos, considerou nos anos de 2012, 2013 e 2014, alarmes como o primeiro perigo a pacientes, numa lista de 10 instrumentos relacionados a saúde. (4)
Em um estudo sobre qualidade de alarmes em unidade de terapia intensiva, os motivos para o controle inadequado dos mesmos esteve associado aos seguintes fatores: falso alarmes; dificuldade de identificar o motivo do alarme; dificuldade em entender prioridade nos alarmes; dificuldade em escutar os alarmes; falta de confiança no alarme; equipe inadequada para responder ao alarme; dificuldade em ajustar os alarmes; falta de treinamento no sistema de alarmes e competição com outros ruídos na unidade. (4)
Algumas sugestões do National Patient Safety Goal on Alarms Management podem facilitar a adoção de estratégias para minimizar possíveis erros relacionados ao tema definindo-se claramente: (5)
  • Quais parâmetros a serem monitorizados em cada cenário?
  • Quais padrões fisiológicos basais para cada item da monitorização?
  • Quando o alarme poderá ser alterado?
  • Quando o alarme poderá ser desligado?
  • Quem na organização pode definir os parâmetros dos alarmes?
  • Quem na organização pode modificar um parâmetro do alarme?
  • Quem na organização pode desligar um alarme?
  • Quem na equipe irá responder caso um alarme toque
  • Ajuste individual para cada paciente e sua necessidade de monitorização.

Outras estratégias que podem minimizar riscos são: treinar adequadamente toda a equipe sobre alarmes e sua importância; diminuir a variabilidade entre marcas de equipamentos utilizados e seguir o manual de instruções específicos; dividir informações sobre eventos ocorridos e definir uma política institucional específica para o assunto, envolvendo todos no desenvolvimento de um programa de segurança relacionado a alarmes. (6)
A sugestão final, é de que cada UTI tente desenvolver uma metodologia para lidar de maneira sistemática com os alarmes, evitando fadiga, falta de monitorização adequada e eventos potencialmente graves aos pacientes.

Referências:
  1. Sentinel Event - The Joint Commission. Issue 50, April, 2013.
  2. Sound the Alarm:Managing Physiologic Monitoring Systems - The Joint Commission Perspectives on Patient Safety. Issue 12, December 2011.
  3. Bridi, A. C. et al. Clinical Alarms in intensive care: implications of alarm fatigue for the safety of patients. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 22(6):1034-40, 2014.
  4. Funk, M. et al. Attitudes and practices related to clinical alarms. AJCC. Volume 23, No. 3, 2014.
  5. National Patient Safety Goal on Alarms Management - Joint Commission Perspectives. Volume 33, Issue 7, 2013. 
  6. Mitka, M. Joint Commission Warns of Alarm Fatigue Multitude of Alarms From Monitoring Devices Problematic. JAMA. Vol 309, No. 22, 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário