segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Hiperóxia: pay attention!"


Corrigir a hipoxemia é uma meta constante na população de pacientes críticos. Porém, muitas vezes na busca pela correção da hipoxemia induz-se a hiperóxia (PaO2 > 120mmHg), que tem potencial efeito deletério.

Diversos estudos experimentais e observacionais demonstraram efeitos adversos atribuídos a hiperóxia. Entre eles vale destacar as lesões histopatológicas pulmonares, com fibrose intersticial, atelectasias e infiltração de neutrófilos.  Sistemicamente pode induzir a redução do débito cardíaco e a produção de radicais livres deletérios a vários sistemas.
Recentes estudos foram publicados com objetivo de associar a tensão arterial de oxigênio (PaO2) à sobrevida de pacientes críticos. Um deles Holandês, que incluiu dados de 50 UTIs (35.000 pacientes), observou que a maioria dos pacientes ventilados apresentavam PaO2 mais elevada do que o recomendado atualmente (PaO2 > 120mmHg). Além disso, demonstrou associação da PaO2 elevada nas primeiras 24 horas com maior mortalidade.   
Outro estudo retrospectivo observacional realizado na Nova Zelândia e Austrália, que incluiu 152.000 pacientes de 150 UTIs,  também revelou que a maioria dos pacientes encontravam-se com níveis de PaO2 acima do desejável nas primeiras 24 horas. Entretanto, esse fato não foi associado com maior mortalidade.
Dentre as principais limitações dos estudos citados, destaca-se o fato de serem retrospectivos e observacionais, o que impede a exata relação causal entre a tensão de O2 e a sobrevida. Além disso, os dados ventilatórios não foram correlacionados, sem análise de possíveis interferências diretas dos demais parâmetros ventilatórios, como por exemplo a potencial indução de lesão pulmonar secundária à VM (VILI).
Os níveis de PaO2 nas primeiras 24 horas merecem maior atenção na prática diária. Como citado, com frequência está acima do necessário e recomendado. Evitar os extremos, corrigindo a hipóxia e considerando os potenciais efeitos deletérios induzidos pela hiperóxia, parece ser o mais adequado no presente. Novos estudos talvez respondam melhor essa questão, individualizando populações e circunstâncias específicas.
Artigos interessantes sobre o tema seguem abaixo.

Referências:
1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19077208
2. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22127482
3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20516417
4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22404056
5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22404058
6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17198052
7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20156707

2 comentários:

  1. Antônio, questão realmente interessante. Hiperóxia mantida de maneira prolongada durante o tratamento de patológia aguda deve ser evitada. Existem relatos de aumento desta toxidade pulmonar especialmente quando relacionada a medicações como amiodarona, sabidamente com potencial de lesão pulmonar por seu uso, mesmo de inicio recente.

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  2. Excesso de oxigênio pode formar espécies reativas de oxigênio como superóxido e peróxido de hidrogênio que lesam a membrana celular, sendo assim deletéria à diversos tecidos.

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