T.V.F., 30 anos, há cerca de 50 dias recebeu transplante de pâncreas-rim, internada inicialmente para tratar infecção urinária. Evoluiu com febre persistente e diarréia. Apresentou desconforto respiratório súbito, com taquipnéia extrema, PaO2/FiO2 de 89 e Rx de tórax com infiltrado reticulo-nodular difuso tomando todos os quadrantes. TC de tórax mostrou múltiplos focos de consolidação, por vezes confluentes dispersos por todos os campos pulmonares. Lactato à chegada na UTI de 5 (VR <11), sem evidência de outras disfunções orgânicas. Foi colocada em ventilação não invasiva (VNI), a imunossupressão foi suspensa e iniciou-se tratamento com Vancomicina, meropenem e claritromicina. (para ler o restante do post clique em mais informações)
No mesmo dia obteve-se reusltado de antigenemia (pp65) para CMV com contagem superior a 500 células. Iniciado tratamento com ganciclovir. A paciente apresentou melhora progressiva, não necessitou intubação orotraqueal. Após 9 dias de tratamento não necessita mais VNI e já se encontra em condições de alta da UTI.
Na avaliação pré-transplante a paciente era IgG e IgM negativos para CMV, o doador era IgG positivo. A paciente não recebeu terapia anti-linfócito nem pulsoterapia com metilprednisolona em momento algum.
O CMV é a etiologia mais importante dentre as doenças virais em transplante de órgão sólido. Geralmente a doença se manifesta após 1 mês de transplante. Os pacientes com transplante de rim são os que exibem a menor morbidade, os com transplante de pâncreas ou transplante duplo (pâncreas-rim) apresentam um risco mais elevado. A pneumonite por CMV em transplante de órgão sólido apresenta elevada mortalidade ( cerca de 48%), mas é inferior aos casos de transplante de medula óssea (84%). A monoterapia com ganciclovir pode ser bem sucedida no transplante renal. Não estão bem estabelecidos nem o papel da profilaxia nem o papel do tratamento combinado com imunoglobulina anti-CMV.
Referências
Fishman JA. Infection in solid-organ transplant-recipients. N Engl J Med 2007; 357 : 2601-14
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Myers JD, Flournoy N, Thomas ED. Risk factor for cytomegalovirus infection after human marrow transplantation. J Infect Dis 1986; 153: 478-88
Petersen PK, Balfour HH, Marker Sc, et al. Cytomegalovirus disease in renal allograft recipients: a prospective study of the clinical features, risk factors and impact on renal transplantation. Medicine 1980; 59: 283-300
Hecht DW, Snydman DR, Crumpacker CS, et al. Ganciclovir for treatment of renal transplant-associated primary cytomegalovirus pneumonia. J Infect Dis 1988; 157: 187-90
Pegues DA, Kubak BM, Maree CL, et al. Infections in kidney transplantation. In: Danovitch GM, Handbook of kidney transplantation. Philadelphia: Lippincott Williams; 2010 p274-275
Depoimento de Rita de Cássia - Transplante Duplo: http://naninho.blog.br/saude/transplantes/depoimento-rita-transplante-duplo.html
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