terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sedação e síndrome do estresse pós traumático

A sedação do paciente crítico vem sofrendo alterações profundas na última década, com a interrupção diária, protocolos específicos e por último com o protocolo de "não sedação" para pacientes críticos em ventilação mecânica. Sabe-se que estas estratégias são capazes de reduzir o tempo de ventilação mecânica, dias de internação em UTI e no hospital, além de infecções relacionadas a dispositivos. (1-2)
O que pouco se discute em relação ao assunto é o impacto a longo prazo desse conceito. O senso comum da grande maioria é de que lembranças, do tempo em que se ficou internado na UTI, possam desencadear piora do déficit cognitivo e síndrome do estresse pós traumático. (para leitura completa clique abaixo)
Vários estudos demonstram que talvez este conceito esteja errado. Desde 2001 com estudo publicado por Jones et al, fica claro que os pacientes que não apresentam memórias fatuais do período de internação apresentam maior chance de desenvolver depressão, alucinações e síndrome do estresse pós traumático. Interessante observar que uma proporção razoável destes pacientes afirmam que em algum momento foram vítimas de "algum ataque" por parte da equipe. (3)
O uso de benzodiazepínicos esta diretamente relacionado com este desfecho a longo prazo. Girard et al (2007) demonstraram através de cohort prospectivo que o uso de lorazepam esteve associado com desenvolvimento de síndrome de estresse pós traumático, com efeito exponencial conforme aumento da dose. (4)
Mais recentemente, dois estudos (Treggiari et al 2009 e Jackson et al 2010) demonstraram segurança do uso da estratégia de interrupção diária da sedação a longo prazo, demonstrando que pacientes submetidos a protocolos diários, não tiveram pior desfecho cognitivo, maior incidência de depressão ou de estresse pós traumático do que pacientes mantidos sob sedação profunda. (5 - 6)
O uso de protocolo específico, com doses menores de sedativos, parece ser seguro e benéfico tanto a curto, quanto a longo prazo e deve ser estimulado na prática clínica diária.

Referências

1. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10816184
2. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20116842
3. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11373423
4. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17316452
5. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19602975
6. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20299535

2 comentários:

  1. Eduardo, excelente post.

    ResponderExcluir
  2. Ótimo post. Mantemos a tendência atual do uso de doses e fármacos apropriados a cada caso, evitando excessos com protocolos que incluem interrupção diária, sem a preocupação com o contexto abordado de estresse pós traumático. Talvez o trauma seja maior de algumas equipes sensacionalistas do que do paciente...

    ResponderExcluir