### Este post foi escrito por Dr. Filipe Sousa Amado com pequena
colaboração de revisão de Dr. Rodrigo Azevedo. Dr. Filipe é médico residente em
Medicina Intensiva do Hospital São Domingos – São Luís- MA. Também é membro do
time de Adequação Antimicrobiana Rápida desta UTI. Este time é responsável pela
gestão dos resultados do MALDI-TOF na UTI há aproximadamente 8 meses. Ficamos
muito gratos por sua colaboração e vontade de dividir seus conhecimentos. ###
Nos últimos anos, a precocidade
das ações terapêuticas nos pacientes graves ganhou especial ênfase. Evitar que
patologias progridam a um ponto de deterioração irreversível da homeostase é a
chave para aumentar a eficácia do tratamento proposto. Quando esta questão se
direciona ao tratamento de pacientes sépticos, algo fundamental em seu
tratamento é a precocidade na administração de antibiótico(s) efetivo(s) contra
a infecção. Em algumas situações, prever o germe
envolvido e seu perfil de sensibilidade não é tarefa tão complexa. Porem,
algumas vezes, esta previsão pode tornar-se tão incerta a ponto de gerar
prescrições com a cobertura extremamente ampla e imprecisa. No popular: “um
tiro no escuro com espingarda de sal”. A consequência disto é possibilidade de uso inadequado de
antibióticos, o aumento da resistência bacteriana, o risco de deixar patógenos
descobertos e o consequente aumento de mortalidade. Como evitar que isto
aconteça? O sonho de qualquer médico no tratamento de pacientes sépticos é já
saber o mais breve possível o patógeno responsável e seu perfil microbiológico.
As culturas de microorganismos, infelizmente, deixam a desejar quanto ao tempo
para o resultado. Novas técnicas de identificação microbiana têm sido propostas e
uma em especial já é mais que uma promessa e começa ocupar o espaço da prática
clinica, o MALDI-TOF ....
O MALDI-TOF MS (Matrix
Assisted Laser Desorption Ionization – Time Of Flight Mass Spectometry), técnica revolucionária que analisa os
padrões de proteínas detectados diretamente dos micro-organismos (vírus,
fungos, bactérias), revelando a identidade daquele agente em tempo menor e com menor custo que os
métodos tradicionais.
Vamos então buscar a sigla do método para definir e entender de forma
objetiva do que ele se trata. Começaremos pelo MS: Mass spectometry –
Espectometria de massa: técnica analítica que consiste na ionização
de átomos ou moléculas de uma amostra com separação das mesmas e posterior mensuração
da razão massa/carga (m/z) dessas partículas. 1
O MALDI-TOF (Matrix Assisted
Laser Desorption Ionization – Time Of Flight) envolve o processo de
dessorção, fenômeno pelo qual uma substância é liberada de uma superfície. O
componente do microrganismo a ser analisado é misturado com outro componente,
designado por matriz, geralmente um composto ácido. A mistura é aplicada a um
suporte e irradiada com laser. A matriz absorve a luz do laser e evapora,
juntamente com a amostra, no processo de ganho de carga elétrica (ionização).
Os campos elétricos conduzem os íons para o tubo do espectrômetro de massa (tempo
de vôo – time of flight TOF). A partir do tempo de vôo, é mensurada a razão de
carga e massa (m/z), e por fim, a quantidade de cada íon é medida. A detecção é
efetuada no fim do tubo de vôo. 1, 2
O resultado dessa análise são as
PMFs (Peptide mass fingerprints), “impressões digitais” da estrutura protéica
daquele micro-organismo em questão. Ou seja, a partir dessas impressões
digitais, um padrão específico (espectro) é gerado e analisado de forma
comparativa por um software, que apresenta um banco de dados de “impressões
digitais” diversas, atualizadas de forma remota e periódica por seus
fabricantes. 1
Veja um exemplo prático.
Inicialmente, a amostra coletada de um paciente é colocada no processo de
semeio em meio adequado, que em média leva 24 horas. Uma vez formado um inóculo
ou colônia, o material é colocado no MALDI-TOF e em cerca de até 2 horas a
análise já foi feita e o resultado da sua identificação daquele micro-organismo
estará pronto. Enquanto isso, nos meios
tradicionais de cultura, atual padrão-ouro, aguardaríamos mais 24 a 48 horas para
o resultado final. Ou seja, comparativamente, enquanto métodos tradicionais
apresentam tempos de 24 a 48h, com o MALDI-TOF conseguimos tempos de análise de
até 2 horas.
Quanto aos custos, de acordo com
Bizzini et al 3 a identificação pelo método tradicional de cultura
(padrão-ouro atual), custa 100 dólares por bactéria, com tempo de 48 horas. Já
Seng et al 4 demonstrou que, pelo MALDI-TOF, o gasto por bactéria
era de poucos dólares com um tempo de poucas horas.
Diversos estudos já apontaram um
aumento na percepção do potencial prático nas rotinas microbiológicas nos
últimos anos. Mas, após toda a explicação, por que optar pelo MALDI-TOF? Rapidez
nos resultados, permitindo adequações e otimizações precoces de variadas
terapias, baixo custo de análise por micro-organismo e precisão nos resultados,
propiciando um uso cada vez mais racional de antibióticos, tratamentos eficazes
e redução de custos. Características ideais, por exemplo, para um ambiente de
terapia intensiva, no qual intervenções precoces e adequadas fazem grande
diferença no desfecho clínico dos pacientes.
O que parecia um exagero no
passado, agora se tornou realidade. MALDI-TOF MS tem se tornado uma ferramenta
valiosa para a microbiologia, com potencial para substituir técnicas de
identificação molecular em um futuro tão presente.
Referências:
1 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26300860
2 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22092265
3 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20220166
4 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19583519
Excelente texto Filipe Amado,
ResponderExcluira escolha do tema foi muito boa.
O MALDI TOF já é uma realidade, pena que apenas em poucos centros de excelência.
Como uso essa técnica no dia a dia sou testemunha do quanto agiliza no reconhecimento microbiológico, auxiliando na conduta, através de ajustes nos antimicrobianos.
Parabéns pelo trabalho que vem fazendo. Tenho muito orgulho de você!!!
Sem duvidas seu futuro será brilhante e repleto de realizações grandiosas na Medicina Intensiva!!!
Grande abraço e conte sempre comigo!!!
Dr Luís Carlos Bernardino Junior
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