A
naloxona é um antagonista específico dos receptores opióides no sistema nervoso
central, apresentando maior afinidade com os receptores µ e menor com os κ e δ.
Seu principal objetivo visa restabelecer a ventilação espontânea em pacientes intoxicados
por opióides. O fármaco também pode reverter o efeito analgésico e os efeitos
tóxicos cardiovasculares, pode restabelecer o nível de consciência, normalizar
o tamanho das pupilas e a atividade intestinal (1). O uso da medicação para a
reversão de efeitos colaterais, como prurido e náusea, ainda é considerada off-label (2), apesar de já demostrada
em alguns estudos (3-5).
Quando
administrado por via intravenosa (IV) em pacientes sob efeitos de morfina, pode
reverter completamente seus efeitos dentro de um a três minutos. Em indivíduos que
fazem uso de opióides de forma abusiva a administração de naloxone pode rapidamente
precipitar sinais de abstinência (1), como dor, hipertensão, sudorese, agitação
e irritabilidade (6).
O
fármaco é comercializado na apresentação de ampola de 1 ml com concentração de
0,4mg/1ml. A ampola poderá ser diluída em 9 ml de água destilada, gerando uma
concentração de 0,04mg/ml (total 10 ml) (2) ou conforme o protocolo da instituição. A medicação é compatível com soro glicosado e
fisiológico nos casos em que se optar por infusão contínua e se mantém estável
na solução por 24 horas (dados contidos na bula).
As formas de
administração são IV (preferida), intramuscular (IM), subcutânea (SC), inalatório
(nebulização), intranasal, endotraqueal e intraósseo (1,2).
O
início da ação é variável a depender da forma de administração (endotraqueal,
IM e SC de 2 a 5 minutos; nebulização 5 minutos; inalatória de 8 a 13 minutos;
IV 2 minutos) e apresenta curto tempo de duração, variando entre 30 e 120 minutos. Os
profissionais de saúde devem ter especial atenção para esta informação, visto
que pacientes com intoxicação grave podem recuperar a respiração espontânea e o
nível de consciência após a dose inicial do antídoto e após retornar ao coma, gerando
morbidade ao paciente (1).
A dose inicial parenteral (IV, IM, SC) varia de 0,4 a 3 mg e pode ser repetida a cada dois ou três
minutos até reversão dos sintomas. Doses adicionais extras podem ser
necessárias (após 20 a 30 min) a depender do tipo de opióide utilizado e de seu
tempo de duração. Caso o paciente não apresente retorno a ventilação espontânea
após 5-10 mg da droga o diagnóstico de intoxicação por opióide deverá ser
revisto (2).
Para pacientes em uso de opióides com meia-vida
prolongada, como a metadona, o uso da naloxona em infusão contínua é uma opção.
Sempre administrar bolus da medicação 15 min antes de iniciar a infusão contínua. Geralmente
a dose utilizada será a ½ da dose que foi necessária para a reversão inicial do
quadro e após manter 2/3 da dose em infusão contínua por hora (tipicamente
0,25-6,25 mg/h) (2).
Exemplo:
Foi necessário 3 mg para
restabelecer a ventilação espontânea:
·
Opção 1 - Repetir 3 mg de forma intermitente a cada 30 a 60 minutos
·
Opção 2 - Fazer ataque de 1,5 mg e manter 2 mg/h em
infusão contínua.
Pacientes recebendo doses terapêuticas de opióides
que evoluírem com depressão respiratória poderão receber doses menores de naloxona,
com dose inicial IV, IM ou SC recomendada de 0,04 a 0,4 mg, repetindo conforme
necessário. Se resposta não alcançada após 0,8 mg de dose total, pesquisar de
outro diagnóstico. Indivíduos em pós-operatória
poderão receber 0,1 a 0,2 mg IV a cada 2 a 3 min. Repetir dose a cada uma ou duas
hora a depender da dose e do opióide utilizado (2).
Nos casos em que se
deseja o controle do prurido orienta-se infusão contínua de 0,25 mcg/Kg/hora,
objetivando reverter o efeito colateral e não a analgesia (2).
Outras formas
alternativas de administração do fármaco e respectivas doses estão resumidas na
tabela 1 (2).
Tabela 1: Formas alternativas
de administração da naloxona
Forma
de administração
|
Dose
inicial
|
Observações
|
Endotraqueal
|
0,8 a 5 mg
|
2-2,5 vezes a dose IV inicial
|
IM ou
SC
|
0,4 mg
|
Repetir a cada 2 a 3 min se
necessário
|
Intranasal
|
1 mg em
cada narina
|
Repetir
a cada 5 min se necessário.
|
Inalação
|
2 mg
|
Repetir se necessário.
|
Todas
as formas alternativas às parenterais deverão ser trocadas para administração
IV assim que possível
|
A
medicação é relativamente contra-indicada em gestantes nas quais a abstinência
aos opióides pode precipitar o trabalho de parto prematuro. Porém o médico deverá
pesar risco benefício nos casos com depressão respiratória grave. Não é
necessário ajuste de dose em pacientes idosos, com insuficiência renal ou
hepática (7).
Os
efeitos colaterais estão disponíveis na tabela 2 (6).
Tabela 2: Efeitos colaterais da naloxona
Efeitos
colaterais da naloxona
|
Maioria decorrente da síndrome de abstinência aos opióides e desencadeados
por descarga catecolaminérgica
|
Febre, rubor, hipertensão, hipotensão, taquicardia, fibrilação
ventricular, taquicardia ventricular
|
Agitação, alucinações, irritabilidade, inquietação, tremores e coma
|
Cólicas
gastrointestinais, diarréia, náusea e vômitos
|
Dor, parestesias,
piloereção, tremor, astenia, diaforese e calafrios
|
Dispnéia,
hipoxemia, edema pulmonar, depressão respiratória, rinorréia e espirros
|
Em
resumo, a naloxona é uma medicação valiosa nos casos em que se objetiva o
diagnóstico de intoxicação por opióides e a reversão de seus efeitos colaterais.
Para o uso seguro da medicação algumas informações devem ser lembradas: 1. O
objetivo primordial da naloxona é o restabelecimento da ventilação espontânea e
não do status neurológico; 2. O
fármaco deverá ser usado com cautela em pacientes cardiopatas pelo risco de estimulação
simpática, principalmente em pacientes com risco de evoluir com síndrome de abstinência;
e 3. A meia-vida dos opióides é maior que a da naloxona e que doses adicionais
intermitentes poderão ser necessárias.
Referências:
- Schumacher MA, Basnaum AI. Analgésicos opióides e antagonistas. In: Katzung BG, Masters SB, Trevor AJ, editors. Farmacologia básica e clínica. 12ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2014.543-64.
- Naloxone: Drug information. Disponível em: www.uptodate.com.
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21957831
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15781505
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21785031
- Stolbach A, Hoffman RS. Acute opioid intoxication in adults. Última atualização em: Apr 03, 2014. Disponível em: www.uptodate.com
- Dowsett RP, Yup L. Intoxicação por opióides. In: Irwin RS, Rippe JM, editors. Terapia intensiva. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 1379-84.
Nenhum comentário:
Postar um comentário