sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

SDRA: vai eritromicina ai?!



           Um estudo publicado no Chest (maio de 2012) por Allan J.   Walkey e colaboradores investigou a influencia das propriedades imunomoduladoras de antibióticos macrolídeos em pacientes com lesão pulmonar aguda (LPA). 

         Este estudo é um análise secundária de dados de estudo multicêntrico, randomizado do ARDSNet (Lisofylline and Respiratory Management of Acute Lung Injury, LARMA, trial).
       Receberam macrolideos nas primeiras 24 horas da inclusão no estudo 47 pacientes (20%) dos 235 pacientes do banco de dados do estudo original. Eritromicina foi o mais utilizado (57%), seguido de azitromicina (40%). A duração média de uso de macrolídeo após inclusão no estudo foi de 4 dias (percentil 25-75, 2-8 dias). Onze dos 47 pacientes (23%) que receberam macrólidos morreu, em comparação com 67 dos 188 (36%) que não receberam um macrolídeo (p =  0,11).
      Os pacientes que receberem macrolídeos eram mais propensos a: ter pneumonia como fator de risco LPA, ter sepse não pulmonar, ou serem randomizados para a estratégia de ventilação com baixo volume corrente. Além disto,  tiveram um tempo mais curto entre internação e inclusão no estudo. Em análise multivariada, após o ajuste para variáveis potencialmente confundidoras, o uso de macrolídeo foi associado com menor mortalidade de 180 dias (taxa de risco, 0,46, 95% CI, 0,23-0,92, p = 0,028) e maior taxa de sucesso na descontinuação da ventilação mecânica (HR, 1,93, 95% CI, 1,18-3,17, p = 0,009). Em contraste, fluoroquinolonas (n 90) e cefalosporinas (n 93) não foram associados a melhores resultados. 



      Conclusão do estudo: a administração de antibióticos macrolídeos foi associado com melhores resultados em pacientes com LPA.
Comentário:
      Este é apenas um estudo observacional, visto que o estudo original não foi desenhado com este fim, mas tem resultados interessantes visto que a disfunção pulmonar na Síndrome de Desconforto Respiratória Agudo estar relacionada a atividade inflamatória no pulmão. O resultado observado não parece estar relacionado a ação antibacteriana dos macrolídeos, visto que o uso de quinolonas e cefalosporinas não obteve o mesmo êxito em sobrevida ou descontinuação da ventilação mecânica. Os macrolideos, além de sua atividade antibacteriana (interação com o ribossoma bacteriano e a consequinte redução da síntese de proteínas), vem tendo propriedades anti-inflamatórias estudadas. Entre estas ações antiinflamatórias estão: downregulation de moléculas de adesão da superfície celular, diminuição da produção de citoquinas proinflamatorias, estimulação da fagocitose por macrófagos alveolares, redução da produção de radicais livres de oxigênio e inibição da ativação de neutrófilos. Além disso, os macrólidos reduzem a produção de muco e a hiperresponsividade brônquica.  Chama a atenção o elevado uso de eritromicina, talvez relacionado a suas propriedades como procinético. Esperamos ver outros estudos nesta área, visto que a única estratégia que comprovadamente reduz mortalidade nestes pacientes é a adoção de medidas de ventilação mecânica protetoras.

Referências:
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22116799
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22553255


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