# Enviado por Dr. Luciano Azevedo - Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, Professor da Disciplina de Emergências Clinica da FMUSP, Medico Intensivista e Pesquisador do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa , diarista da UTI da Disciplina de anestesiologia dor e terapia intensiva da UNIFESP. Dr. Luciano é também coordenador do Curso Nacional de Atualização em Terapia Intensiva. Agradecemos por dividir seus conhecimentos através do pacientegrave.com. #
Em pacientes que permanecem hipoxêmicos após utilização
de todas as manobras descritas no post anterior, temos as opções das terapias
de resgate para hipoxemia refratária. Uma primeira estratégia de resgate
ventilatória desses pacientes é a utilização de manobras de recrutamento. Define-se manobra de recrutamento como o processo de aumento temporário da
pressão transpulmonar, de modo a vencer a pressão crítica de abertura dos
alvéolos previamente colapsados...
Outra opção para tratar pacientes com hipoxemia grave é a posição prona. Estudos
pequenos mostraram melhora
da oxigenação de 60 a 80% com a posição prona em pacientes com SDRA. A posição
prona libera as regiões dorsais comprimidas na posição supina através da maior
pressão pleural local, peso do coração e estruturas mediastinais, resultando em
maior recrutamento de áreas colapsadas. Deste modo, há redução de áreas de shunt
intrapulmonar e melhor acoplamento da ventilação/perfusão, favorecendo uma
ventilação mais homogênea, com menos hiperdistensão. O efeito sobre a
troca gasosa está sujeito à manutenção da posição prona e perde-se, de forma
parcial ou total, após o retorno à posição supina. Portanto, quando aplicada
essa estratégia com o objetivo de melhorar a hipoxemia, o paciente deve
permanecer em posição prona por períodos prolongados (por exemplo, >
18h/dia). Os estudos clínicos randomizados têm
demonstrado melhora nas trocas gasosas com a posição prona, embora tais efeitos
não tenham se revestido em melhora da mortalidade. A analise de subgrupo dos
pacientes mais graves desses estudos sugere que esse tipo de estratégia pode reduzir
a mortalidade dessa população específica. Portanto, apesar de melhora comprovada na
oxigenação, o posicionamento em prona não deve ser empregado rotineiramente,
podendo ser usado em pacientes com SDRA graves, com altos níveis de pressão
positiva e FiO2.
O
óxido nítrico (NO), um fator vascular derivado do endotélio, é um importante
mediador endógeno de vários processos fisiológicos in vivo e causa relaxamento da musculatura lisa e a consequente
vasodilatação. A vasodilatação resulta da redução da concentração de cálcio na
musculatura lisa vascular mediado pelo NO. O uso de NO inalatório tem a
vantagem potencial de permitir efeitos locais a nível pulmonar, teoricamente
sem efeitos sistêmicos significativos. A utilização de NO inalatório afeta a
troca gasosa, por aumentar o fluxo sanguíneo para as áreas ventiladas e
inadequadamente perfundidas, melhorando, assim, o distúrbio
ventilação/perfusão. Após o estudo de modelos experimentais de SDRA, nos quais
o uso de NO inalatório reduziu as pressões pulmonares e melhorou a oxigenação,
a sua utilidade foi estudada em ensaios clínicos. Esses estudos sugerem efeito
vasodilatador no território pulmonar (redução da pressão de artéria pulmonar) e
melhora do desempenho ventricular direito. Em muitos pacientes, a melhora do NO
na oxigenação parece limitada às primeiras 24 a 48 horas de terapia, e é
necessária a sua retirada gradual para evitar o efeito rebote. Estudos
multicêntricos não mostraram redução na mortalidade de pacientes com SDRA
tratados com NO, ficando essa terapia reservada para resgate de formas muito
graves da doença.
Um
percentual considerável dos pacientes com SDRA grave utiliza bloqueadores
neuromusculares (BNMs) em qualquer período de seu tratamento. O objetivo da
utilização desses medicamentos é melhorar a sincronia do paciente em ventilação
mecânica, reduzir o consumo de oxigênio sistêmico e, consequentemente, melhorar
a oxigenação arterial. Estudos iniciais com uso de BNMs demonstraram que esses
fármacos também parecem ter efeito na redução da inflamação pulmonar associada
à SDRA. Todavia, o seu uso clínico tem sido relacionado ao desenvolvimento de
fraqueza muscular associado à doença crítica, notadamente quando administrado
em conjunto com corticosteroides. A despeito das evidências do malefício do
uso de BNMs, um estudo recente demonstrou que os pacientes com SDRA poderiam se
beneficiar da utilização de infusão contínua precoce, por 48 horas, de
cisatracúrio, obtendo retirada mais rápida do suporte ventilatório e redução da mortalidade, quando ajustada pela
gravidade da doença. Não houve uma maior incidência de fraqueza muscular
no grupo que recebeu BNMs.
Por
fim, uma
terapia de resgate que vem ganhando importância no tratamento de pacientes com
hipoxemia refratária é o suporte respiratório extracorpóreo (ECMO). Tal sistema
é utilizado em centros especializados pediátricos e
adultos de insuficiência respiratória e cardíaca. A oxigenação extracorpórea é um sistema capaz de dar suporte às trocas
gasosas, permitindo o “descanso” pulmonar até a recuperação da doença, além de
diminuir os potenciais efeitos lesivos da lesão pulmonar induzida pela
ventilação mecânica. A ECMO pode ser considerada a terapia de resgate
definitiva para pacientes com hipoxemia refratária, já que, durante a
utilização do sistema, a troca gasosa pulmonar não é necessária. A técnica da
oxigenação extracorpórea consiste em
remover o sangue do
paciente com a utilização de uma bomba (centrífuga ou peristáltica) e
impulsioná-lo através de um pulmão artificial (membrana). Podem ser utilizados
acessos venoarteriais, nos quais retira-se sangue da circulação venosa,
devolvendo-o na aorta, com o objetivo principal de dar suporte cardiopulmonar
(débito cardíaco e troca gasosa pulmonar). Para o tratamento da hipoxemia
refratária, a técnica mais utilizada é a venovenosa, na qual o sangue é
retirado e devolvido no sistema venoso do paciente, oferecendo, assim, apenas
suporte respiratório. As principais complicações da ECMO estão relacionadas à
ativação da coagulação pelo sistema extracorpóreo, com aumento da incidência de
sangramento. Do mesmo modo, as técnicas venoarteriais associam-se a riscos de
isquemia de extremidades (de até 25% nas diversas casuísticas). Os primeiros estudos prospectivos com essa técnica foram negativos,
provavelmente em virtude de dificuldades técnicas e elevada incidência de
complicações. Contudo, recentemente, o desenvolvimento de novas membranas com
biocompatibilidade e revestidos com heparina reduziu muito as complicações da
anticoagulação e a resposta inflamatória induzida pelo suporte extracorpóreo. No ano de 2009, com o surgimento dos casos
de influenza A (H1N1) e da síndrome
respiratória aguda, que vitimou muitos pacientes com essa condição, a ECMO foi
novamente sugerida como uma importante ferramenta para o tratamento de
pacientes com SDRA e hipoxemia refratária. Estudos
prospectivos multicêntricos em andamento deverão confirmar o papel benéfico da
ECMO no tratamento de pacientes com SDRA grave.
Excelente artigo,que continue assim!Obrigado.jgcruz
ResponderExcluirBom resumo.
ResponderExcluirSaudações Lusas!
Um resumo bem didático! Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom! Para mais informações sobre o ECMO o trecho usado foi do artigos "Oxigenação extracorpórea por membrana na hipoxemia grave: hora de revermos nossos conceitos?*"
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