segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vitamina D e mortalidade




# Clube de revista postado pela Dra. Olívia Haun de Oliveira, residente de medicina intensiva da UNIFESP #

O papel da vitamina D na regulação do metabolismo do cálcio é bem conhecido. Evidências recentes sugerem, entretanto, um papel ainda mais amplo, envolvendo propriedades anti-inflamatórias e anti-proliferativas. Há também dados associando a deficiência com doença cardiovascular, câncer e mortalidade. Venkatram et al publicaram na Critical Care, em 2011, o estudo Vitamin D deficiency is associated with mortality in the medical intensive care unit, um trabalho retrospectivo realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de 26 leitos do interior do estado de Nova York, que avaliou a prevalência de deficiência de 25(OH)D e sua relação com mortalidade, duração de ventilação mecânica e tempo de internamento em UTI.

O estudo incluiu pacientes admitidos na UTI que tinham a dosagem dos níveis de 25(OH)D disponíveis. A dosagem havia sido feita após encorajar médicos do serviço a solicitar o exame como parte de projeto de melhoria de performance da UTI, o qual incluía a pesquisa da prevalência de deficiência de vitamina D. Deficiência foi definida como níveis de 25(OH)D inferiores a 20 ng/dl, e insuficiência de 20 a 29,9 ng/dl.
Dos 932 pacientes admitidos na UTI no período do estudo (4 meses), 523 tinham os níveis de 25(OH)D disponíveis, sendo desses 86 excluídos por terem sido readmitidos na unidade. Dos 437 restantes (incluídos no estudo), 77,8% tinham deficiência de 25(OH)D, 16,9% tinham insuficiência e apenas 5,3% tinham níveis dentro da normalidade. Ao estratificar os pacientes de acordo com os níveis de 25(OH)D à admissão, notou-se que o grupo com insuficiência/deficiência era mais jovem, homens em sua maioria, com maior frequência de insuficiência renal aguda / crônica agudizada e com menor nível de cálcio sérico.
A mortalidade hospitalar foi maior nos pacientes com deficiência de 25(OH)D. Os níveis de 25(OH)D dos sobreviventes eram maiores que os dos não sobreviventes. A área sob a curva ROC para os níveis de 25(OH)D foi de 0,66, com um valor de 10ng/dl para uma sensibilidade de 59,8% e especificidade de 58%. Não houve diferença entre os grupos para duração de ventilação mecânica e dias de internamento.
O estudo apresenta uma série de limitações. Foi retrospectivo em centro único envolvendo coleta de dados em meses de outono e inverno (com menor exposição ao sol e subsequente maior incidência de deficiência de vitamina D), com níveis de 25(OH)D, dosados à admissão, podendo representar deficiência prévia. Além disso, ao comparar os pacientes incluídos com os que não tinham níveis de 25(OH)D dosados, houve diferença na mortalidade, maior no grupo com dosagem disponível, não podendo se excluir a possibilidade de viés de seleção.
Além de todas as limitações, devemos nos atentar para o fato de que, apesar de ter sido encontrada uma diferença de mortalidade com significância estatística, ainda não conhecemos a implicação deste achado na prática clínica. Talvez a vitamina D seja apenas só mais um marcador de mortalidade em pacientes críticos. Outra possibilidade é que possa fazer parte de um caminho para a modulação da resposta do organismo à injúria grave. Pesquisas futuras ainda deverão avaliar se a reposição de vitamina D pode melhorar o desfecho de pacientes críticos. 

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