# Clube de
revista postado pela Dra. Olívia Haun de Oliveira, residente de medicina
intensiva da UNIFESP #
O papel da
vitamina D na regulação do metabolismo do cálcio é bem conhecido. Evidências
recentes sugerem, entretanto, um papel ainda mais amplo, envolvendo
propriedades anti-inflamatórias e anti-proliferativas. Há também dados
associando a deficiência com doença cardiovascular, câncer e mortalidade. Venkatram
et al publicaram na Critical Care, em
2011, o estudo Vitamin D deficiency is
associated with mortality in the medical intensive care unit, um trabalho retrospectivo
realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de 26 leitos do interior do
estado de Nova York, que avaliou a prevalência de deficiência de 25(OH)D e sua
relação com mortalidade, duração de ventilação mecânica e tempo de internamento
em UTI.
O estudo
incluiu pacientes admitidos na UTI que tinham a dosagem dos níveis de 25(OH)D
disponíveis. A dosagem havia sido feita após encorajar médicos do serviço a
solicitar o exame como parte de projeto de melhoria de performance da UTI, o
qual incluía a pesquisa da prevalência de deficiência de vitamina D.
Deficiência foi definida como níveis de 25(OH)D inferiores a 20 ng/dl, e
insuficiência de 20 a 29,9 ng/dl.
Dos 932
pacientes admitidos na UTI no período do estudo (4 meses), 523 tinham os níveis de
25(OH)D disponíveis, sendo desses 86 excluídos por terem sido readmitidos na
unidade. Dos 437 restantes (incluídos no estudo), 77,8% tinham deficiência de
25(OH)D, 16,9% tinham insuficiência e apenas 5,3% tinham níveis dentro da
normalidade. Ao estratificar os pacientes de acordo com os níveis de 25(OH)D à
admissão, notou-se que o grupo com insuficiência/deficiência era mais jovem, homens
em sua maioria, com maior frequência de insuficiência renal aguda / crônica
agudizada e com menor nível de cálcio sérico.
A mortalidade
hospitalar foi maior nos pacientes com deficiência de 25(OH)D. Os níveis de
25(OH)D dos sobreviventes eram maiores que os dos não sobreviventes. A área sob
a curva ROC para os níveis de 25(OH)D foi de 0,66, com um valor de 10ng/dl para
uma sensibilidade de 59,8% e especificidade de 58%. Não houve diferença entre
os grupos para duração de ventilação mecânica e dias de internamento.
O estudo
apresenta uma série de limitações. Foi retrospectivo em centro único envolvendo
coleta de dados em meses de outono e inverno (com menor exposição ao sol e
subsequente maior incidência de deficiência de vitamina D), com níveis de
25(OH)D, dosados à admissão, podendo representar deficiência prévia. Além
disso, ao comparar os pacientes incluídos com os que não tinham níveis de 25(OH)D
dosados, houve diferença na mortalidade, maior no grupo com dosagem disponível,
não podendo se excluir a possibilidade de viés de seleção.
Além de todas
as limitações, devemos nos atentar para o fato de que, apesar de ter sido
encontrada uma diferença de mortalidade com significância estatística, ainda
não conhecemos a implicação deste achado na prática clínica. Talvez a vitamina
D seja apenas só mais um marcador de mortalidade em pacientes críticos. Outra
possibilidade é que possa fazer parte de um caminho para a modulação da
resposta do organismo à injúria grave. Pesquisas futuras ainda deverão avaliar
se a reposição de vitamina D pode melhorar o desfecho de pacientes
críticos.
Referências:
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