domingo, 5 de fevereiro de 2012

Cardiomiopatia por estresse


       Angina, alterações no ECG como elevações do segmento ST ou inversões T, somadas a alterações na troponina em geral são investigadas com cateterismo cardíaco. Não infrequentemente uma lesão coronariana culpada não é evidente. A presença de significativa disfunção ventricular esquerda e acinesia simétrica envolvendo os segmentos médio e apical com hipercontratilidade relativa da base cardíaca são altamente sugestivos da cardiomipatia de stress (Figura 1).



Fig 1. Exemplo croronariografia normal em paciente com ECG acima (supra ST V2-V6 e D1 -AVL) apresentando alterações na parede apical e médio-ventricular.

      A cardiomiopatia por estresse pode ocorrer após o estresse mental ou físico agudo, hemorragia subaracnoide, acidente vascular cerebral isquêmico, trauma crânio encefálico, doenças agudas críticas (choque séptico), durante uma crise de feocromocitoma ou como um resultado de administração exógena de catecolaminas (Figura 2). 
Figura 2
        O mecanismo fisiopatológico proposto no contexto de cardiomiopatia secundária a injurias neurológicas está exposto na Figura 3.
Figura 3. Mecanismo fisiopatológico proposto na justificativa da injuria neurocardiogênica
       
          No ambiente de UTI, especialmente onde o risco de sangramento, comorbidades ou doença aguda grave limitam o cateterismo, podem ser indicadores úteis que a disfunção do VE é devido ao cardiomiopatia induzida por estresse:
  • disfunção ventricular esquerda aguda grave sem uma elevação significativa da troponina sérica e/ou creatina quinase MB.
  • ecocardiografia observando acinesia estendendo-se igualmente nas paredes inferior e lateral como o antero-septal. Geralmente na doença coronariana da artéria descendente anterior, a extensão da lesão antero-septal é maior do que as paredes inferior e lateral. Já as lesões da coronária esquerda ou circunflexa, se não dominante, geralmente poupa a porção antero-septal.
  • repetição da ecocardiografia em poucos dias ou semanas confirmam recuperação completa da função do VE
          Um roteiro diagnóstico proposto pela American Heart Association está exposto na Figura 4.
Figura 4
       Opções de tratamento da cardiomiopatia por estresse nos ambientes de UTI, resume-se na identificação e tratamento eficaz da condição médica ou cirúrgica preceptante. O tratamento de suporte inclui tratar insuficiência cardíaca e arritmias, bem como otimização hemodinâmica e parâmetros metabólicos. A anticoagulação é tema ainda incerto, especialmente no contexto do paciente crítico. O prognóstico pode não ser benigno, com formação de trombo  em VE (3,8%), insuficiência cardíaca congestiva (3,8%), e óbito (3,2%).  
      A cardiomiopatia por estresse é uma condição completamente reversível caso o paciente supere a fase aguda da injúria, sendo que a longo prazo o prognóstico cardíaco é geralmente bom. 

Referências: 
1. www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3224539
2. www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1847940  
3. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2060582

3 comentários:

  1. So para lembrar: a disfunção ventricular induzida por estresse (ou cardiomiopatia de takotsubo, palavra japonesa para designar armadilha para pegar polvo, representada por um pote com fundo arredondado e pescoço estreito) foi inicialmente descrita no Japão em pacientes que apresentavam quadro semelhante ao infarto agudo do miocárdio, porém com artérias coronárias normais. Posteriormente, vários relatos foram apresentados em população caucasiana, com forte predominância na população feminina e rápida recuperação do quadro...ótimo post Bafi, grande abraço , Elton Henrique (ex Hospital Paulistano)

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  2. Mas o que quer dizer lesão de parede anteroseptal?

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  3. Tenho o átrio esquerdo aumentado com 102ml e disfunção diastólica grau 5 isso requer transplante

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