O coração e os pulmões estão acoplados tanto anatomicamente quanto fisiologicamente. Os sistemas cardiovascular e respiratório são funcionalmente ligados na cadeia respiratória, atuando tanto na oxigenação celular como na eliminação do CO2, o que traduz em outras palavras a relação entre oferta e consumo de oxigênio (Lei de Fick). Grande parte da interação mecânica entre estes dois sistemas relaciona-se ao local em que se encontram, caixa torácica, e o fato dos pulmões interligarem as câmaras cardíacas direita e esquerda por um sistema de vasos comunicantes.
Algumas das intervenções terapêuticas dirigidas para corrigir a disfunção do sistema cardiovascular podem levar a piora da função pulmonar (por exemplo, reanimação agressiva com fluidos). Do mesmo modo, o suporte ventilatório com pressão positiva nas vias aéreas podem reduzir a pressão arterial (por exemplo, o aumento da pressão torácica pode dificultar o retorno venoso e reduzir o débito cardíaco) e prejudicar a oferta de oxigênio tecidual.
Os casos de insuficiência respiratória relacionados à disfunção aguda do VE, com consequente edema pulmonar cardiogênico, podem estar presentes em diversas situações clínicas, como exemplos: evento isquêmico coronariano, distúrbios do ritmo, miocardite, pericardite, disfunção valvar, distúrbios de pré e pós carga do VE. Na vigência de arritmias complexas com instabilidade, isquemia miocárdica aguda e/ou choque cardiogênico, em geral o paciente será submetido à ventilação mecânica invasiva com pressão positiva e as alterações hemodinâmicas secundárias estarão evidentes.
A maior parte dos efeitos cardiovasculares relacionados à ventilação com pressão positiva parece ser decorrente de efeitos mecânicos, associados a resposta simpática autônoma que busca contrabalançar esses mesmos efeitos. Esquematicamente, pode-se resumir esses efeitos em três categorias:
A maior parte dos efeitos cardiovasculares relacionados à ventilação com pressão positiva parece ser decorrente de efeitos mecânicos, associados a resposta simpática autônoma que busca contrabalançar esses mesmos efeitos. Esquematicamente, pode-se resumir esses efeitos em três categorias:
- Alterações do retorno venoso para ambos os átrios:
A pré
carga representa o volume diastólico final do ventrículo esquerdo
(VDFVE). Em geral, a redução do retorno venoso traduz em redução do
VDFVE. O átrio direito e a veia cava estão localizados dentro do tórax. A
ventilação mecânica com pressão positiva gera um aumento da pressão
intra-torácica com consequente aumento na pressão atrial direita e sobre
a veia cava, o que decorre na redução do retorno venoso. Se esta queda
no fluxo de sangue venoso é sustentada, o VDFVE (pré-carga) será
reduzida podendo impactar em redução do débito cardíaco. Nos
casos em que há disfunção ventricular esquerda, o uso da ventilação
mecânica com pressão positiva e consequente aumento da pressão
intratorácica, leva a redução da pré carga, contribuindo para o melhor o
desempenho contrátil do VE. (Figura 1).
Figura 01- Representação esquemática das possíveis alterações da interação cardiopulmonar com alterações da pressão intratorácica (PIT) e volume pulmonar total (VPT). |
- Alterações da pós-carga de ambos os ventrículos, com possível alteração da distribuição periférica do fluxo sanguíneo.
A pós-carga
do VE sofre influência direta da variação da pressão intra-torácica. A
máxima tensão sobre as paredes do VE ocorrem no final da fase de
contração isométrica, com a abertura da valva aórtIca. Durante a
sístole, o volume do VE se reduz e a pós-carga diminui.
Quando já existe dilatação de VE, como em pacientes com miocardiopatia
dilatada, a tensão máxima nas paredes ocorre durante a sístole, pois o
produto máximo entre pressão e volume ocorre nessa fase. O aumento da
pressão intra-torácica promove redução da pressão transmural do VE e
consequente redução da pós carga. Esse mecanismo sofre influência
de outros fatores, como estado volêmico, e depende diretamente da
função ventricular dos pacientes. Pacientes com insuficiência cardíaca
sistólica, a ventilação com pressão positiva não provoca redução
significativa do débito cardíaco pois a pequena redução do retorno
venoso não altera a pré-carga do VE. Entretanto essa pressão positiva é
capaz de reduzir a pós carga do VE com consequente aumento do débito
cardíaco.
- Alterações de complacência de todas as câmaras cardíacas:
Esses efeitos (alterações de pré-carga, complacência, ou pós-carga)
podem ser vistos como uma conseqüência direta ou indireta das variações
de pressão alveolar. Enquanto pressões alveolares elevadas podem ser
diretamente responsáveis pelo estiramento pulmonar e compressão dos
capilares septais (alterando a resistência vascular pulmonar e o retorno
venoso para o átrio esquerdo), a parcial transmissão das pressões
alveolares à superfície pleural pode ser responsável pela compressão do
saco pericárdico e das veias sistêmicas intra-torácicas, com
consequentes alterações do retorno venoso descritas acima, bem como as
alterações de resistência venosa sistêmica, de complacência ventricular,
e de pós-carga ventricular .
Como o ciclo respiratório é normalmente muito mais lento que o ciclo cardíaco, a passagem de sangue pelos vasos pulmonares pode ser vista como um processo contínuo, ocorrendo praticamente durante todo o ciclo respiratório, e variando apenas de acordo com as pequenas diferenças de pressão e volume encontradas durante a inspiração e a expiração. Como as pressões alveolares costumam ser mais baixas durante a expiração, e considerando-se que o tempo expiratório é comumente mais longo que a fase inspiratória, a maior parte da perfusão pulmonar tende a ocorrer durante a expiração. Como consequência as variações nos níveis de PEEP, exercercem influência hemodinâmica muito marcante, já que a circulação pulmonar é comprometida em seu momento de maior intensidade. Concomitantemente as influências pressóricas diretas aos vasos pulmonares e pressões intra-torácicas, é preciso considerar os importantes efeitos da chamada “interdependência ventricular” (Figura 3).
Como o ciclo respiratório é normalmente muito mais lento que o ciclo cardíaco, a passagem de sangue pelos vasos pulmonares pode ser vista como um processo contínuo, ocorrendo praticamente durante todo o ciclo respiratório, e variando apenas de acordo com as pequenas diferenças de pressão e volume encontradas durante a inspiração e a expiração. Como as pressões alveolares costumam ser mais baixas durante a expiração, e considerando-se que o tempo expiratório é comumente mais longo que a fase inspiratória, a maior parte da perfusão pulmonar tende a ocorrer durante a expiração. Como consequência as variações nos níveis de PEEP, exercercem influência hemodinâmica muito marcante, já que a circulação pulmonar é comprometida em seu momento de maior intensidade. Concomitantemente as influências pressóricas diretas aos vasos pulmonares e pressões intra-torácicas, é preciso considerar os importantes efeitos da chamada “interdependência ventricular” (Figura 3).
Em concordância com essas colocações, estudos hemodinâmicos comparativos entre diversos modos de ventilação mecânica demonstram que, independentemente do modo específico de ventilação, a pressão média de vias aéreas é o principal responsável pelos efeitos cardiovasculares associados à ventilação mecânica(40). Aumentos do tempo inspiratório, diminuição do tempo expiratório (principalmente quando associados à inversão da relação I:E), grandes pausas inspiratórias, uso de altos volumes correntes, uso de fluxos inspiratórios decrescentes, e uso de PEEP são manobras que tendem a elevar a pressão média de vias aéreas, podendo comprometer a situação hemodinâmica, em especial na população de cardiopatas. Resumindo os complexos efeitos da PEEP sobre a hemodinâmica, os aspectos mais importantes para monitorizar à beira do leito são as consequências potencialmente prejudiciais para o retorno venoso e pós carga do VD.
Os artigos a seguir pormenorizam a discussão acima de maneira muito interessante.
Referências:
1. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16917432
2. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17198043
3. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16356246
4. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16306058
5. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19094381
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