sábado, 27 de agosto de 2016

Como formar um médico intensivista?


        Este post é voltado a explicar como ocorre a formação do intensivista no Brasil e para tirar dúvidas de médicos interessados em ingressar nesta envolvente especialidade.

           A medicina intensiva é uma especialidade nova, ainda pouco conhecida pela população, porem em franco crescimento. O aumento da expectativa de vida, aliada ao desenvolvimento de novas tecnologias, fez com que pacientes vivam mais e com mais qualidade de vida. Este fato vem motivando profunda mudança no perfil dos pacientes com necessidade de hospitalização. Em todo o mundo cresce o número de internações por motivos mais graves e no Brasil isto não tem sido diferente.
Conforme pesquisa divulgada em 2016 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) o número de leitos de internação, voltados para pacientes que ficam por mais de 24 horas no hospital, vem caindo desde 2010 no Brasil. Entretanto, entre as unidades de terapia intensiva (UTIs), ocorre justamente o oposto, com um crescimento na quantidade de leitos no mesmo período. Destes fatos decorre a demanda de formar profissionais da saúde, entre eles médicos, especializados no atendimento multidisciplinar a estes pacientes graves. Em cenário tão complexo e dinâmico onde uma decisão pode ter impacto de sobrevida a qualidade da formação é crucial. A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) de termina que a formação intensivista seja baseada  na aquisição das competências, habilidades e atitudes recomendadas pelo Programa de Competências em Medicina Intensiva-PROCOMI, assim, habilitando este médico para prestar a prova de título da especialidade.
Por ser uma especialidade nova (reconhecida pela AMB em ) existem muitos médicos atuando em medicina intensiva no Brasil que vieram de outras especialidades. Com o crescimento da especialidade houve necessidade de a AMIB garantir formação uniforme aos especialistas.
Existem duas vias de formação do intensivista em nosso país:

1 - Programas de Residência Médica credenciados pelo MEC. Duração de 2 anos. Acesso após conclusão de residência médica reconhecida pelo MEC nas áreas pré-requisito pela Comissão Nacional de Residência Médica - CNRM (Clínica Médica, Cirurgia Geral, Anestesiologia e Pediatria no caso de UTI pediatrica).  Mais recentemente, Neurologia, Infectologia ou Medicina de Família e Comunidade também passaram a ser pré-requistos reconhecidos pela CNRM (não dispomos no número da resolução, mas encontra-se publicado no site da AMIB, ver referência ao final do texto). Esses programas reportam-se à CNRM/MEC e habilitam seu egresso a prestar prova de título de especialista da AMIB/AMB bem como a registrar-se imediatamente após o término do programa de residência como especialista em Medicina Intensiva junto ao CRM. Os residentes recebem bolsa para custeo de suas despesas básicas durante a formação com valor estabelecido pelo MEC.

2 - Programa de Especialização em Medicina Intensiva (PEMI) em Centro Formador credenciado pela AMIB - PEMI-AMIB. Esses programas ocorrem através de treinamento teórico e prático em centros devidamente credenciados e reconhecidos para tal função e também habilitam seu egresso a prestar prova de título de especialista em Medicina Intensiva AMIB/AMB. O especializando só poderá registrar-se no CRM como especialista em Medicina Intensiva após aprovação na prova de título da especialidade realizada pela AMIB/AMB.
O acesso do candidato a um PEMI-AMIB pode ocorrer de duas formas:
1. Acesso Direto (ao termino da graduação em medicina) - PEMI-AMIB de 3 anos. Este tipo de de programa de especialização tem feito crescer bastante a procura pela espacialidade por possibilitar ao egresso da graduação em medicina o acesso a formação na especialidade.
2. PEMI-AMIB com duração de 2 anos para o candidato que tenha concluído Residência Médica- MEC ou Programa de Especialização reconhecido pela respectiva sociedade nas áreas de Clinica Médica, Anestesiologia, Cirurgia, Pediatria, Neurologia, Infectologia ou Cardiologia.
Os especializandos dos PEMIs habitualmente também recebem bolsa com valor variável conforme o Centro Formador.

A pós-graduação lato senso é um curso de atualização médica e não de formação médica sendo um programa essencialmente teórico. Portanto, a conclusão da pós-graduação latu senso, per si, não habilita o candidato a inscrever-se na prova de título.


Existem diversos programas de residência médica MEC e PEMI em centros formadores credenciados pela AMIB. Para mais informações visite o site da AMIB: www.amib.org.br
Referênica sobre os novos pré-requisitos para a residencia médica MEC em medicina intensiva: http://www.amib.org.br/detalhe/noticia/prm-de-neurologia-e-infectologia-tambem-sao-pre-requisitos-para-prova-de-residencia-medica-em-medicina-intensiva

15 comentários:

  1. Não foi comentado que maior parte dos atuais intensivistas do Brasil não tem formação formal, realizando prova de título apos tempo de experiência.

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  2. João Furtado, é verdade. Conforme comentamos no texto, a medicina intensiva é uma especialidade nova. Quando comento isto no texto ate falo que muitos profissionais da medicina intensiva vieram de outras áreas. Temos muitos especialistas de uma época onde a chance de uma formação "formal" era pequena. Assim, temos muitos especialistas que prestaram a prova de titulo pelo tempo de experiência. Felizmente a medicina intensiva tem crescido e isso exive da especialidade uma uniformização dos conhecimentos e formação exigida. A AMIB vem trabalhando nisto. O PROCOMI é um reflexo disto, bem como a maior oferta de residências e PEMIs, a maior exigência de conhecimentos na prova de titulo (que passou a incluir parte prática) e as mais recentes mudanças da exigência de pontuação para prestar a prova de titulo. Nossa realidade já é diferente de ha 10 anos e imagino que em breve, apenas uma minoria dos profissionais da medicina intensiva ainda se tornarão intensivistas pelo tempo de experiência. Isso só indica amadurecimento como especialidade

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    1. Com certeza, trocam-se 4 anos de dedicacao semanal de 60h com avaliacao continua por dois dias de prova (de titulo), com experiencia conquistada infelizmente às custas muita das vezes das vidas de pacientes pobres, na base da tentativa e erro, de medicos que nao querem perder nem tempo, nem deixar de ganhar dinheiro pra poder se dedicar a 4 anos de residencia. Enquanto a prova de titulo existir da forma como está, apesar dos avancos, a medicina intensiva nao sera valorizada como especialidade a ser escolhida pelos egressos. Nas outras especialidades, por exemplo, cardiologia (podia ser qualquer outra) é pouco comum encontrar medicos sem residencia em cardiologia trabalhando 8 anos na especialidade para depois prestar prova de titulo.

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  3. Sabemos que existe uma grande diferença entre intensivistas formados através de residência médica e aqueles que fizeram uma mera pos graduação e prestaram prova de título. Talvez daqui uns anos gestores enxerguem a estar dois profissionais tão diferentes em relação a qualidade e custo.

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    1. Amigo Anônimo, como dissemos no texto sobre as pós-graduções latu senso... "A pós-graduação lato senso é um curso de atualização médica e não de formação médica sendo um programa essencialmente teórico. Portanto, a conclusão da pós-graduação latu senso, per si, não habilita o candidato a inscrever-se na prova de título.". A residencia médica (MEC) e o PEMI (AMIB), têm conteúdo e carga horário parecido e formam intensivistas com capacidade de atuar amplamente no tratamento de pacientes graves. A AMIB recomenda que a formação de intensivistas siga as orientações do PROCOMI. Estas são as formas de formar, formalmente, um intensivista.

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  4. Quais são os centros PEMI no Brasil?

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    1. Leonardo, percebi esta falta no site da AMIB. Encaminhei e-mail para eles com a sugestão de atualizar o site com os programas de PEMI disponíveis. Seria uma excelente ideia se pudessemos ter no site da AMIB as vagas de PEMI disponiveis por Estado e região no Brail

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    2. Leonardo, mandei esta mensagem para a secretária da comissão de formação de intensivistas da AMIB:
      Prezada Elida,
      boa tarde. Recentemente escrevi em meu blog sobre as maneiras de formar intensivistas no Brasil (http://www.pacientegrave.com/2016/08/como-formar-um-medico-intensivista.html). Tivemos alguns comentários sobre a postagem. Em um destes o leitor perguntou onde consultar os PEMIs cadastrados na AMIB e as vagas disponíveis. Percebi que não temos esta informação no site da AMIB (temos apenas a divulgação de algumas vagas em 3 programas de especialização), dai pensei em contribuir com a comissão de formação de especialistas sugerindo a disponibilização desta informação no site da AMIB. Isto é importante, pois ajuda a divulgar os programas de especialização. Seria possível criar e divulgar no site uma lista dos PEMIs cadastrados na AMIB, com informações sobre Estado, cidade, Local (Hospital), coordenador, e-mail e telefone?
      Se possível repasse esta mensagem aos colegas da formação de intensivistas da AMIB

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    3. Da mesma forma poderia disponibilizar os hospitais que oferecem residencia medica credenciada pelo MEC, ja que é consenso que o padrao ouro para formacao do especialista no Brasil é a residencia medica.

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    4. Anonimo, discordo de vc. Como ja expliquei antes, PEMI é tão padrao ouro quanto a residencia. Ambos são parecidos em conteúdo e carga horaria. Acho que vc esta confundindo PEMI com cursos de pós-graduação. Quando fiz residencia em medicina intensiva na UNIFESP eramos 2 residentes MEC e 1 especializando (PEMI). Todos eramos chamados de "residentes"(pelo senso comum que a palavra remete a médico em formação em serviço), tinhamos a mesma carga horaria e os mesmos rodizios. Ninguém nem sabia quem era do MEC ou do PEMI. E no final, todos prestamos prova de titulo da AMIB juntos. Alem disto, atualmente a grande maioria dos PEMIs oferece bolsa com valor similar (as vezes ate superior) a bolsa do MEC. Espero que tenha ajudado e desfazer esta sua impressão. PEMI AMIB e residencia MEC são os padrões ouro de formação de intensivistas

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