O Brasil tem vivido uma escalada nos últimos anos de doenças virais transmitidas pelo Aedes Aegypti. A velha conhecida dengue, a tão temedida Zyka e a menos badalada Chikungunya. Estimativas relatam dezenas de milhares de casos de Chikungunya no Brasil. Normalmente a Chikungunya é uma doença viral que cursa com febre e artralgia importantes, porem alguns pacientes tem apresentado características mais graves e requerem internação em UTI. Afinal, o que aprendemos sobre casos graves desta síndrome viral? Porque estes pacientes vão para a UTI e como trata-los?
Alguns surtos de Chikungunya já foram relatados.
Revisamos o que já foi descrito de casos graves nestes surtos
Surto em Ilha da
Reunião (Oceano Indico - 2005 -
2006) - Lemant e colaboradores1
descreveram as características clínicas de 33 casos de pacientes com
confirmação de infecção por Chikungunya internados em UTI deste este surto. Dos 33
pacientes, 58% tinham manifestações específicas do vírus, 24% manifestações
associadas ao vírus e 18% exacerbações de doenças prévias. Entre as
manifestações específicas do vírus Chikungunya, foram identificados 14 casos de encefalopatia, um caso cada de
miocardite, hepatite e síndrome de Guillain Barré. Estas complicações
estiveram relacionadas à elevada mortalidade encontrada nesta população
estudada 48%.
Surto nas Ilhas Martinica e
Guadelupe (Caribe - 2013-2014) - Crosby L e colaboradores 2 publicaram um
estudo com casos graves de Chikungunya internados em UTIs nas Ilhas Martinica e
Guadalupe. Um total de 65 pacientes foram admitidos na UTI com a infecção confirmada.
Destes 83% tinham uma doença de base pré-existente e 41,5% foram admitidos por
exacerbação de uma comorbidade. Em 57% dos pacientes houve necessidade de
ventilação mecânica. As taxas de mortalidade na UTI e hospitalar foram de 26% e
27%, respectivamente. Manifestações relacionadas com a Chikungunya foram
observadas em 18% dos pacientes sendo as principais, encefalite, síndrome de
Guillain -Barré, e sepse grave.
Também na Martinica em 2014, Rollé e colaboradores3
descreveram casuística de 450 pacientes internados por Chikungunya, sendo 42
com manifestações graves. Destes 25 com sepse grave ou choque septico e 12
óbitos pela doença. Apesar de rara, a sepse grave e o choque séptico podem ser
complicações graves da Chikungunya.
Existem muitos relatos de complicações neurológicas
relacionados a Chikungunya. Chandak NH e colaboradores 4, descreveram
casos de complicações neurológicas pela infecção em pacientes durante um surto
no distrito de Nagpur, na Índia. Foram estudados 300 pacientes e destes 16,3%
apresentaram complicações neurológicas, sendo as mais frequentes: encefalite
(55%), mielopatia (14%), neuropatia (14%), mieloneuropatia (14%) e miopatia
(2%). Houve 3 óbitos. O tratamento com corticoides quando comparado ao tratamento de suporte não mostrou benefício na recuperação.
A Chikungunya é algo novo e cada vez mais frequente para
nós no Brasil. Entender que alguns casos podem apresentar manifestações graves
e letais é importante para não menosprezar a gravidade da doença, bem como para
propor tratamento intensivo a este pacientes. É importante ainda estar atento a este quadro em
diagnósticos diferenciais de quadros septicos e de manifestações neurológicas
como encefalite e poliradiculoneurite.
Referências
1 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18679124
2 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27208636
3 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27088710
4 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19439849
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