terça-feira, 28 de junho de 2016

Chikungunya em UTI: isso é sério???



O Brasil tem vivido uma escalada nos últimos anos de doenças virais transmitidas pelo Aedes Aegypti. A velha conhecida dengue, a tão temedida Zyka e a menos badalada Chikungunya. Estimativas relatam dezenas de milhares de casos de Chikungunya no Brasil. Normalmente a Chikungunya é uma doença viral que cursa com febre e artralgia importantes, porem alguns pacientes tem apresentado características mais graves e requerem internação em UTI. Afinal, o que aprendemos sobre casos graves desta síndrome viral? Porque estes pacientes vão para a UTI e como trata-los?

Alguns surtos de Chikungunya já foram relatados. Revisamos o que já foi descrito de casos graves nestes surtos

Surto em Ilha da Reunião (Oceano Indico - 2005 - 2006) - Lemant e  colaboradores1 descreveram as características clínicas de 33 casos de pacientes com confirmação de infecção por Chikungunya internados em UTI deste este surto. Dos 33 pacientes, 58% tinham manifestações específicas do vírus, 24% manifestações associadas ao vírus e  18% exacerbações de doenças prévias. Entre as manifestações específicas do vírus Chikungunya, foram identificados 14 casos de encefalopatia, um caso cada de miocardite, hepatite e síndrome de Guillain Barré. Estas complicações estiveram relacionadas à elevada mortalidade encontrada nesta população estudada 48%.

Surto nas Ilhas Martinica e Guadelupe (Caribe - 2013-2014) - Crosby L e colaboradores 2 publicaram um estudo com casos graves de Chikungunya internados em UTIs nas Ilhas Martinica e Guadalupe. Um total de 65 pacientes foram admitidos na UTI com a infecção confirmada. Destes 83% tinham uma doença de base pré-existente e 41,5% foram admitidos por exacerbação de uma comorbidade. Em 57% dos pacientes houve necessidade de ventilação mecânica. As taxas de mortalidade na UTI e hospitalar foram de 26% e 27%, respectivamente. Manifestações relacionadas com a Chikungunya foram observadas em 18% dos pacientes sendo as principais, encefalite, síndrome de Guillain -Barré, e sepse grave.
Também na Martinica em 2014, Rollé e colaboradores3 descreveram casuística de 450 pacientes internados por Chikungunya, sendo 42 com manifestações graves. Destes 25 com sepse grave ou choque septico e 12 óbitos pela doença. Apesar de rara, a sepse grave e o choque séptico podem ser complicações graves da Chikungunya.

Existem muitos relatos de complicações neurológicas relacionados a Chikungunya. Chandak NH e colaboradores 4, descreveram casos de complicações neurológicas pela infecção em pacientes durante um surto no distrito de Nagpur, na Índia. Foram estudados 300 pacientes e destes 16,3% apresentaram complicações neurológicas, sendo as mais frequentes: encefalite (55%), mielopatia (14%), neuropatia (14%), mieloneuropatia (14%) e miopatia (2%). Houve 3 óbitos. O tratamento com corticoides quando comparado ao tratamento de suporte não mostrou benefício na recuperação.
A Chikungunya é algo novo e cada vez mais frequente para nós no Brasil. Entender que alguns casos podem apresentar manifestações graves e letais é importante para não menosprezar a gravidade da doença, bem como para propor tratamento intensivo a este pacientes. É importante ainda estar atento a este quadro em diagnósticos diferenciais de quadros septicos e de manifestações neurológicas como encefalite e poliradiculoneurite.

Referências
1 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18679124
2 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27208636
3 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27088710
4 - www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19439849

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