O tratamento com B-bloqueador reduz internações e aumenta a sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca (1). Entretanto, durante as fases de descompensação estas medicações são freqüentemente suspensas. Alguns estudos pequenos têm demonstrado que a manutenção do B-bloqueador na fase aguda pode ser benéfica. Existe ainda uma outra questão: pacientes em uso de inotrópicos devem suspender o uso de B-bloqueadores? ... (para continuar lendo clique abaixo)
O estudo de Böhm e colaboradores (2), publicado em maio de 2011, fez uma análise post hoc do estudo SURVIVE (3) (que comparou o uso de dobutamina e levosimedan) e observou a mortalidade dos pacientes que mantiveram e dos que suspenderam o uso de B-bloqueador durante o uso de inotrópicos na descompensação da ICC.
Neste estudo, os pacientes foram divididos em 4 grupos conforme o uso de B-bloqueador na entrada no estudo e na saída do estudo.
B-bloqueador no baseline | B-bloqueador na saida | |
Grupo 1 | Sim | Sim |
Grupo 2 | Não | Sim |
Grupo 3 | Não | Não |
Grupo 4 | Sim | Não |
Quando comparados o grupo em uso de B-bloquedor no baseline e na saída do estudo (Grupo 1) houve uma redução expressiva de mortalidade em relação ao grupo que não estava em uso de B-loqueador no baseline nem na saída (Grupo3), p=0,0002 na mortalidade de 31 dias e p<0,0001 na mortalidade de 180 dias. Houve ainda redução de mortalidade entre o grupo 1 e o grupo 4 (aqueles que estavam em uso de B-bloqueador no baseline e não estava na saída do estudo).
Pontos fracos deste estudo: Esta é uma análise post hoc do estudo SURVIVE, assim este estudo não foi desenhado com a finalidade de definir o beneficio do uso de B-bloqueadores durante a descompensação de ICC em pacientes que iriam fazer uso de inotrópicos. Também importante perceber que os autores descrevem o uso de B-bloqueadores no baseline e na saída do estudo e supõe, por exemplo, que pacientes do grupo 1 (YES/YES) mantiveram o uso de B-bloqueador durante todo o período entre o baseline e a saída do estudo. Assim, o decorrer deste período não foi bem descrito ou determinado.
Conclusão deste estudo: em pacientes com descompensação grave de insuficiência cardíaca, admitidos em uso de B-bloqueador, devem ter a medicação continuada até a alta.
Não seriam os doentes em uso de bbloq menos graves? Por isso a possibilidade de manter o medicamento e menor mortalidade?
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ResponderExcluirOlá, obrigado pelo comentário. Achei muito pertinente e interessante. Os pacientes incluídos neste estudo eram em geral graves por contados critérios de inclusão (resposta insuficiente a furosemida ou vasodilatodores venosos e mais um dos seguintes oliguria não causada por hipovolemia, dispnéia de repouso ou necessidade de vent. mecânica, disfunção hemodinâmica com necessidade de inotrópicos ). Na tabela 1 do estudo, onde são evidenciadas as características do baseline, não existe diferença em termos de franção de ejeção dos pacientes (em média 23 a 24%), ou oligúria, ou necessidade de ventilação mecânica ou história de hipotensão. Entretanto, infardo agudo do miocardio era mais encontrado na admissão (motivo desta) no grupo 4 ( grupo de pacientes que usava B-bloq no baseline e não usavam na alta). Vale ainda lembrar que este estudo não apresenta indices de gravidade (como o APACHE,ou SAPS) na tabela de comparação do baseline, o que realmente nos deixa curioso quanto a gravidade geral no baseline, bem como fico curioso de saber se a porcentagem de pacientes tratados com lesosimedan ou dobuta foi diferente entre os grupos. Mais uma vez lembro que este estudo é uma análise post hoc e o estudo não foi desenhado com este objetivo.
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